quinta-feira, 4 de abril de 2013

O Retrato



O RETRATO

É noite, levanto-me, ando pelo meu apartamento;
esgueirando-me sonolenta, afastando a escuridão
devagar como se fora naquele momento,
um animal ferido no corpo e na visão.

Sim, é desse jeito que me sinto;
um animal desprotegido, acuado
então, logo eu pressinto,
tudo está totalmente escuro, tudo está apagado

Acendo todas as lâmpadas que vou encontrando;
olho ao redor para aquele ambiente,
pouco a pouco vou me familiarizando,
e sonolenta eu sigo, devagar e sempre.

Paro e fico analisando com atenção tudo que vejo;
mas mesmo assim ainda me sinto perdida,
nesse momento o meu único desejo
é simplesmente me sentir protegida.

Continuo a caminhar, devagar;
meu corpo se move lentamente,
nem mesma sei aonde quero chegar
pensamentos embaçados, mente dormente.

De repente, no meu quarto eu entro;
sem querer, olho-me no espelho e fico a pensar
quanto tempo faz? Quanto tempo
que eu não paro para me observar?

Encaro o espelho de frente, olho bem para aquela mulher;
começo a comparar com aquela que está no retrato,
a diferença entre uma e outra, gritante é,
o tempo para com a mulher do espelho foi cruel, foi ingrato.

                                                         Dóris Maria Lima dos Santos
                                                                     Escritora
                                                                   24.3.2013




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